Milhares de pessoas no Reino Unido estão processando a gigante Johnson & Johnson por alegações de que o talco para bebês da empresa causa câncer, espelhando uma longa batalha judicial nos Estados Unidos sobre o mesmo produto.
Mais de 3.000 pessoas aderiram ao processo, apresentado na última terça-feira (14) no Tribunal Superior britânico. O valor inicial da ação é de 1 bilhão de libras (US$ 1,3 bilhão ou R$ 7 bilhões), disse a KP Law, que representa os cidadãos. É a primeira ação coletiva contra a empresa no Reino Unido.
Os reclamantes alegam que, de 1965 a 2023, a Johnson & Johnson vendeu produtos de talco que sabia que continham fibras cancerígenas, incluindo amianto, em busca de lucro. A empresa parou de vender talco para bebês nos Estados Unidos e Canadá em 2020, mudando para produtos à base de amido de milho, adotados globalmente em 2023.
As alegações no Reino Unido são semelhantes a outras feitas nos EUA, onde a empresa enfrentou acusações de dezenas de milhares de pessoas. Na semana passada, a Johnson & Johnson foi condenada por um júri de Los Angeles a pagar US$ 966 milhões à família de uma mulher da Califórnia que morreu de um câncer raro e agressivo. Também neste ano, um juiz dos EUA rejeitou um pedido da J&J para aprovar um acordo de US$ 9 bilhões para resolver cerca de 70 mil queixas.
Durante décadas, o talco para bebês da Johnson & Johnson foi feito a partir do mineral talco. A empresa passou anos afirmando que o produto era seguro. Memorandos internos mostraram, no entanto, que a empresa havia muito tempo estava preocupada com a possibilidade de o talco estar contaminado com amianto, um carcinógeno conhecido que frequentemente aparece no subsolo próximo ao talco.
Em 2023, a Johnson & Johnson separou suas marcas em uma empresa independente chamada Kenvue. “Nos solidarizamos profundamente com as pessoas que vivem com câncer”, afirmou a Kenvue em um comunicado nesta quinta-feira (16).
A Kenvue defendeu a segurança do talco para bebês dizendo que o produto é respaldado “por anos de testes” em laboratórios e universidades e por autoridades de saúde em todo o mundo. Segundo a empresa, o talco usado no produto para bebês “estava em conformidade com todos os padrões regulatórios exigidos, não continha amianto e não causa câncer”.
A ação judicial no Reino Unido inclui pessoas que desenvolveram doenças como câncer de ovário e mesotelioma, um tipo de câncer ligado à exposição ao amianto. Eles dizem que foram expostos ao produto por pelo menos cinco anos, durante a infância e às vezes continuando na idade adulta.
A ação afirma que o talco para bebês foi comercializado no Reino Unido com embalagens que diziam que sua “suavidade era clinicamente comprovada”.
“Por décadas, a Johnson & Johnson orquestrou uma campanha de negações e subterfúgios”, disse Tom Longstaff, sócio da KP Law, em nota. “Seremos implacáveis em responsabilizá-los em nome de todos aqueles que sofreram devido às suas ações.”
Fonte ==> Uol