24 de janeiro de 2025

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No aniversário de São Paulo, uma novidade: a cidade está parando de crescer – 24/01/2025 – Mauro Calliari

No aniversário de São Paulo, uma novidade: a cidade está parando de crescer - 24/01/2025 - Mauro Calliari

A cidade que não podia parar, está parando.

As últimas projeções populacionais feitas pelo Seade são surpreendentes. Entre 1950 e 2010, a população de São Paulo pulou de 2 para mais de 11,2 milhões. De lá para cá, o ritmo despencou e chegamos 11,45 milhões de habitantes, muito menos que o previsto no último Censo.

O fim do crescimento explosivo é um fato transcendente.

No início do século 20, paulistanos se gabavam de ser a cidade que mais crescia no mundo, embalada pelo café, o trem, a industrialização e a imigração. Nas décadas seguintes, chegaram migrantes de outros estados e a cidade ganhou nova escala. A desindustrialização do final do século viu aumentar a importância dos serviços, botamos um pé na contemporaneidade, mas nunca tiramos o outro pé da desigualdade. E nunca havíamos contemplado o fim do crescimento.

O que explica o fim do crescimento

Crescimento demográfico depende de dois componentes, o vegetativo e o migratório. A taxa de fertilidade caiu em todo o Brasil e em São Paulo mais ainda, com o menor patamar histórico de 1,4 filhos por mulher.

A maior novidade, entretanto, fica por conta do inédito saldo líquido negativo da migração. Tem muito mais gente saindo do que chegando à cidade, num aprofundamento do êxodo que começou na pandemia, em busca de qualidade de vida.

Os desafios da cidade que cresce menos

O primeiro desafio é rever o jeito de planejar. Estagnação populacional não é novidade para o Japão, mas num país jovem como o Brasil, é. A cidade de São Paulo acomodou uma média de 130 mil novos habitantes por ano desde 1950. Na última década, foram apenas 17 mil por ano. Sintomaticamente, as discussões do Plano Diretor dois anos atrás não conseguiram nem oferecer uma revisão nas estimativas de crescimento, que muda o perfil dos investimentos.

Governos terão que repensar prioridades. Com mais pessoas idosas, vai ser preciso redistribuir a localização de hospitais, centros comunitários e, na outra ponta, de escolas e creches.

É claro que há e haverá demanda por novos imóveis, mesmo sem crescimento. Quem muda de emprego, casa ou se separa, ganha um dinheiro a mais, cresce ou se aborrece, precisa trocar de casa. Mas o ritmo e o perfil dessa demanda devem mudar. Quase 15% da população já mora sozinha e isso está aumentando. Há milhões de pessoas que moram em imóveis insalubres e que vão precisar de moradias dignas. E mais do que nunca, vai ser preciso reduzir a pressão ambiental da urbanização.

Finalmente, a mudança mostra também a redução relativa de São Paulo. Em 1950, 80% da população da Grande São Paulo morava na cidade. Hoje, é pouco mais da metade. O desafio é manter sua liderança para continuar atraindo pessoas da megalópole que vai até Campinas em busca de shows, hospitais, educação de ponta, compras e oportunidades.

Talvez não seja ruim parar de crescer indefinidamente. Com o tamanho atual, São Paulo tem gente e competência suficiente para manter sua vitalidade econômica e cultural mas o desafio vai mudar. Em vez de acomodar de qualquer maneira as massas de pessoas que nascem ou chegam, vai ser bom ver como a cidade se move para melhorar a vida de quem já está aqui e para se reinventar mais uma vez.



Fonte ==> Folha SP

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