20 de abril de 2025

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Os desvarios de Trump já impactam o Brasil – 06/02/2025 – Rodrigo Tavares

Os desvarios de Trump já impactam o Brasil - 06/02/2025 - Rodrigo Tavares

Quando Hitler chegou ao poder, desmantelou a ADGB, a maior federação de sindicatos do mundo, que representava milhões de trabalhadores alemães.

Após o golpe de Estado, Pinochet extinguiu organizações de direitos humanos e a Cora, a agência responsável pela reforma agrária.

Em 1926, Mussolini substitui os prefeitos eleitos (“sindacos”) por uma rede de acólitos fascistas nomeados por ele.

Regimes autoritários frequentemente desmantelam as instituições públicas que não representam o narcisismo messiânico e ideológico do novo regime, acusando-as de serem ineficientes, dispendiosas ou corruptas. É um primeiro passo na tomada de controle do aparelho do Estado e na degola da liberdade e da democracia.

Trump decidiu paralisar a Usaid, a maior agência do mundo de ajuda pública ao desenvolvimento e cooperação internacional, criada em 1961. Os EUA são o maior doador internacional (US$ 65 bilhões em 2023), seguidos, com muito espaçamento, por Alemanha, União Europeia e Japão. Cerca de 30% de todos os recursos financeiros aplicados por países em programas internacionais de desenvolvimento socioambiental tem impressões digitais americanas. A Usaid opera em 130 países com 1% do orçamento federal.

Trump afirmou que a agência é liderada por “um bando de lunáticos radicais”, e Musk escreveu que a Usaid é um “ninho de víboras marxistas radicais de esquerda que odeiam os Estados Unidos” e a classificou como uma “organização criminosa”. “É hora de ela morrer”, sentenciou.

Empresas terceirizadas pela Usaid tiveram os seus contratos anulados e os empregados da agência foram colocados em licença administrativa e obrigados a regressar a casa. A sede em Washington está fechada, tal como o website. O ambiente é de repressão, patrulhamento e medo.

Nos últimos dias, contatei nove funcionários da Usaid por e-mail, telefone e WhatsApp, incluindo o diretor da agência no Brasil, Mark Carrato. Ou não responderam ou informarem que não queriam falar.

No Brasil, a Usaid desenvolve um longo cardápio de programas de apoio, focado na prevenção de incêndios florestais, no combate a crimes ambientais, na inclusão, na igualdade de gênero e no turismo sustentável. No início do ano, a agência lançou uma nova política de promoção global da biodiversidade que tinha o Brasil como carro-chefe.

A Usaid trabalha em todos os estados da Amazônia Legal. Em 2023, foram realizadas atividades em 170 áreas protegidas, inclusive treinamento para mais de 13 mil pessoas. O seu trabalho melhorou práticas de gestão florestal em um território amazônico de 48 milhões de hectares. Funai, Ibama, ABC, ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e dezenas de outros organismos públicos brasileiros são parceiros da agência americana. Em maio de 2024, a Usaid mobilizou milhões em apoio às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

Se Trump concretizar a sua vontade, o trabalho da Usaid no Brasil será encerrado. Como reagirá o governo brasileiro?

Poderá retaliar. O Brasil apoia várias iniciativas e agências federais norte-americanas em áreas como educação, cultura, defesa, meteorologia, combate ao tráfico de drogas, meio ambiente, energia, saúde, agricultura, ciência e tecnologia. Nem todos esses programas de cooperação beneficiam apenas o Brasil.

O país também poderá ser criativo. Em 2019, em meio ao autoritarismo do governo Bolsonaro e ao cerceamento das políticas ambientais, a Usaid conseguiu inteligentemente firmar um acordo com o Ministério do Meio Ambiente de Ricardo Salles para promover a biodiversidade na Amazônia e lançar o Amazon Biodiversity Fund (ABF), o primeiro fundo de investimento de impacto voltado para negócios sustentáveis na Amazônia. Furou o bloqueio.

Agora, o governo brasileiro poderá também apresentar iniciativas de cooperação em democracia diante do autoritarismo de Trump. A tecnologia eleitoral brasileira, por exemplo, é muito mais sofisticada que a norte-americana. Os EUA ainda votam arcaicamente com papel e caneta.

A terceira alternativa é ficar calado.



Fonte ==> Folha SP

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