22 de janeiro de 2025

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A ilusão do molhado: como nosso corpo percebe a água – 21/01/2025 – Bibi Bailas

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A sensação de molhado é algo tão comum que raramente paramos para questionar como realmente a percebemos.

A verdade é que, ao contrário de muitos outros animais, os seres humanos não possuem receptores especializados para detectar a umidade ou a presença de água na pele. Em insetos, por exemplo, existem higroreceptores que são usados para detectar mudanças na umidade do ambiente. Esses sensores, conhecidos como higrossensores, permitem que eles percebam a umidade com precisão.

No entanto, o maior órgão sensorial dos seres humanos, a pele, não tem essa capacidade. Em vez de detectar a água diretamente, os humanos dependem de uma combinação de inputs sensoriais, como temperatura e pressão.

Estudos recentes ajudaram a esclarecer esse processo. Ao colocar diferentes estímulos nas mãos e braços de voluntários, os pesquisadores observaram que, à medida que a temperatura dos objetos tocados diminuía, a sensação de molhado aumentava.

Isso indicava que a temperatura tem um papel importante na nossa percepção de umidade. Além disso, foi descoberto que a pele com pelos (como a dos braços) é mais sensível à sensação de molhado do que a pele lisa, e que essa sensação diminui significativamente quando os nervos são bloqueados, como no caso de um manguito de pressão arterial inflado.

A sensação de molhado pode ser facilmente induzida no cérebro. Por exemplo, ao sentar-se em uma cadeira de metal com a pele nua. A sensação de frio do metal pode fazer com que o cérebro interprete isso como uma sensação de molhado, mesmo sem a presença de água.

Da mesma forma, ao usar uma luva de látex e colocar a mão na água, a sensação de umidade pode surgir mesmo sem a água tocando diretamente a pele.

Esses achados são explicados pelo fato de que, ao receber estímulos térmicos e mecânicos na pele, o cérebro tenta fazer uma estimativa do que está acontecendo, levando em conta o que já aprendeu sobre como essas sensações normalmente se relacionam.

O cérebro usa esse conhecimento prévio para inferir a presença ou ausência de umidade, e isso é reforçado pela experiência sensorial acumulada ao longo da vida.

A sensação de molhado é resultado de uma integração multimodal entre os estímulos térmicos (como o frio) e mecânicos (como a pressão). Quando a atividade das fibras nervosas foi reduzida de forma seletiva, a percepção de molhado também foi significativamente diminuída.

Além disso, descobriu-se que, embora todos os estímulos tivessem os mesmos níveis de umidade, os estímulos de água morna ou neutra eram percebidos como significativamente menos molhados do que a água fria, mostrando que o frio tem um impacto maior na nossa percepção de umidade.

Em resumo, os seres humanos não conseguem sentir a umidade de forma direta. O que sentimos como molhado é, na verdade, uma interpretação sensorial feita pelo cérebro, com base em informações sobre temperatura e pressão. Nosso cérebro, diante de estímulos térmicos e mecânicos, infere a presença de água, mas nunca podemos sentir a verdadeira umidade, como insetos fazem com seus higroreceptores.

A sensação de molhado é, portanto, uma construção cerebral, e nós só a experimentamos com base em estímulos ambientais, como a temperatura fria da água ou a pressão de um tecido molhado. Até que consigamos modificar a nossa biologia e incluir sensores especializados, como os dos insetos, essa percepção permanecerá como uma ilusão sensorial criada pelo cérebro.

Esse processo não só revela a complexidade da percepção humana, mas também demonstra como a ciência pode ser aplicada para melhorar produtos do cotidiano, como fraldas e roupas, levando em consideração a maneira como o cérebro interpreta esses estímulos sensoriais.



Fonte ==> Folha SP

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