Gosto muito da Angelica, desde que ela era criancinha. Eu a conheci pessoalmente na extinta TV Manchete, bem no começo dos anos 90, quando eu era apresentadora e repórter e ela já era uma estrela teen.

Acompanhei sua trajetória e vi sua carreira florescer. Quando trabalhei no programa Show Business, entrevistei Angelica como empresária. Lembro que gravamos num showroom de moda praia e comentei que eu tinha uma filha ainda bebê. Angelica gentilmente pegou um mini-biquíni e fez questão de dar de presente para menina.

Quem é mãe sabe o que isso significa. Agradar um filho é ganhar nosso coração. Desde então, além de admiradora, passei a ser sua defensora. E, só para constar, também tenho grande apreço pelo Luciano Huck, a quem considero amigo, embora nossos contatos sejam bem pouco frequentes.

Há algum tempo, venho acompanhando uma ou outra notícia de uma certa fricção da família com a atual namorada de Benício, filho mais velho do casal. Não a conheço e, confesso, me sinto mal como uma mulher madura de falar de uma garota tão jovem.

Me coloco no lugar de sua mãe e imagino como é doloroso ver alguém julgando a filha da gente. Por isso, vou deixar o julgamento pessoal de lado e focar no conteúdo do vídeo que ela, Duda Guerra, a “nora da Angelica”, publicou em aberto nas redes.

O resumo da ópera é que uma garota famosa no TikTok seguiu Benício numa rede e pediu para ser aceita em outro perfil dele, um ‘dix’, perfil fechado e mais ou menos secreto, só para os íntimos. O jovem mostrou para a namorada um print do pedido da garota, Duda não gostou e teria tratado mal a menina num encontro de adolescentes onde todas estavam presentes.

Sou dezesseis anos mais velha que a Angelica, poderia ser avó do Benício e tenho de tempo de internet o dobro do que a Duda tem de idade. E sei que essa geração lida com a exposição pública da própria vida de uma forma muito diferente da minha. Mas há coisas que não dependem da idade, porque são valores eternos. Como o afeto e a liberdade.

Quem ama não controla a vida do outro, não sai por aí reclamando que fulana seguiu o “seu” namorado. Pode gostar ou não gostar, mas não tem o direito de cobrar a outra pessoa. Se eu quiser seguir alguém, vou lá e sigo. Se o perfil for fechado, eu peço. Se for recusada, ok. Mas eu tenho todo direito do mundo de tentar seguir quem eu quiser. O nome disso é liberdade.

E, analisando o texto, que é minha especialidade profissional, percebo que a repetição da expressão “meu namorado” carrega um sentimento de posse muito grande. Aliás, “meu namorado”, usado tantas vezes, nos induz a ver o outro como uma propriedade, uma pessoa sem identidade, que nem nome tem.

Claro que, aos 16 anos, um jovem ainda não tem todos os recursos para regular suas emoções, nem o neocórtex está totalmente amadurecido. Mas já é possível entender que ninguém é dono de ninguém e que controlar a vida de outra pessoa é privá-la de ser agente da própria existência.

Infelizmente nem nós que somos adultos conseguimos regular nossas emoções. Prova disso é que centenas de pessoas bombardearam o perfil de Angelica com comentários sobre a treta. E Angelica, talvez inadvertidamente, curtiu um comentário nada lisonjeiro sobre a “nora”. Depois descurtiu.

Diante desse tsunami, Angelica decidiu postar um pronunciamento em seu perfil no Instagram, muito elogiado por todos. Angelica sempre foi uma pessoa sensata, com lugar de fala sobre exposição pública. Bem antes das redes, ela cresceu sendo famosa e tendo sua vida inteira publicada na mídia.

Tenho certeza de que ela vai lidar com tudo da melhor forma. Que alguma lição positiva vai sair desse caso também para as jovens envolvidas. E tenho esperança de que a empatia, o bom senso, o afeto e a maturidade possam guiar todos nós, adultos, na hora de escolher a melhor forma de usar nossa liberdade de expressão ao comentar a vida alheia.

E, não, Angelica não vai participar do reality Ilhados com a Sogra.