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Atrizes colocam a menopausa na roda de discussão com arte – 16/08/2025 – Equilíbrio

Atrizes colocam a menopausa na roda de discussão com arte - 16/08/2025 - Equilíbrio

A atriz Miá Mello, 44, achou que estivesse passando por um jet lag. Claudia Raia, 58, até conversava com a mãe sobre o assunto, mas, quando chegou sua vez, demorou para descobrir o que eram aqueles sintomas.

O fato de a menopausa ser um tabu fez com que o diagnóstico das duas demorasse, mas também foi responsável por dar a elas um propósito: o de levar o assunto a público, compartilhando suas experiências.

Ao entrarem no fim de sua fase reprodutiva, transformaram as mudanças físicas e emocionais em peças de teatro. Miá estreou em julho, com as colegas Juliana Araripe e Camila Raffanti, “Mulheres em Chamas”, em São Paulo. Claudia, com seu marido, Jarbas Homem de Mello, apresentou “Cenas da Menopausa” em janeiro em Portugal e, desde junho, estão com o espetáculo na capital paulista.

Como essas atrizes, outras mulheres vêm usando sua visibilidade para tirar a menopausa do armário. Em junho, a comunicadora Maria Cândida, 53, publicou o livro “Menopausa como Jornada”. A atriz, modelo e apresentadora Fernanda Lima, 48, lançou, em agosto de 2024, o podcast “Zen Vergonha”.

“Porque somos figuras públicas, as pessoas acham que nada de ruim acontece com a gente. Então, eu quis dividir o que passei com o público”, diz Claudia Raia. Ela viveu duas entradas na menopausa: uma antes do nascimento de seu filho, Luca, e outra depois, enquanto se preparava para a peça.

No palco, a atriz, que interpreta diferentes mulheres, não só conta sua experiência, como, no final, com o marido, que dirige o espetáculo, bate papo com o público, formado quase que 40% por homens.

No dia em que a Folha assistiu à peça, um espectador se levantou e pediu desculpa para a mulher por não tê-la ajudado a passar pelos sintomas pois não sabia que ela estava nessa fase.

O fato de a mulher não ter contado ao marido tem uma explicação. “O tabu relacionado à menopausa está vinculado à conotação de perda da beleza, da juventude e da capacidade reprodutiva, ou seja, uma visão muito negativa que as mulheres não querem expor” diz Lucia Helena Simões da Costa Paiva, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

É só prestar atenção. Quantas mulheres você já ouviu falando sobre menopausa, climatério e perimenopausa (os dois últimos se referem ao período de transição para a menopausa)? No Brasil, a idade média em que a mulher atinge seu fim reprodutivo é 48 anos, segundo o Estudo Brasileiro de Menopausa, de 2022. Considerando o último Censo do IBGE, o total de mulheres nessa faixa ou acima dela é de cerca de 33 milhões.

Não dá para afirmar que as 33 milhões estejam na menopausa, mas um número próximo disso, como dizem especialistas. “Temos duas certezas: a de que vamos morrer e a de que todas as mulheres, com ou sem sintomas, viverão a menopausa”, afirma Fabiane Berta, ginecologista especialista no assunto.

De acordo com a médica, o trabalho de nomes como Claudia mostra para as mulheres que elas não estão sozinhas. “Quando a menina menstrua, recebe informação e acolhimento. Já a menopausa é invisibilizada e, quando grandes vozes falam sobre isso, gera pertencimento”, diz Fabiane. Mais importante ainda, ela afirma, ao ter a informação, a população pode buscar tratamento.

A terapia de reposição hormonal é o principal método contra sintomas como ondas de calor, suores noturnos, irritabilidade, perda de libido, secura vaginal, névoa mental e insônia, mas não é indicada para todas as mulheres. Uma das que pôde segui-la foi Maria Cândida, que chegou à menopausa três anos atrás, aos 50. “Foi vendo o meu processo, e que não se falava sobre isso, que decidi buscar informação e escrever o livro”, diz.



A população está envelhecendo, e deve ter o direito de envelhecer de forma saudável. Nesse sentido, é muito importante o que essas artistas estão fazendo. O conhecimento liberta

Recém-lançado, “Menopausa como Jornada” já entrou em lista de mais vendidos, mas a comunicadora, que deve estrear um documentário sobre o tema em 2026, tem um sonho maior. Que seu livro e outros trabalhos movimentem a sociedade para que a terapia hormonal seja amplamente oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Atualmente, ela é assegurada pela Lei Orgânica da Saúde, mas o acompanhamento ainda é limitado.

“A população está envelhecendo, e deve ter o direito de envelhecer de forma saudável”, afirma a ginecologista Juliana Aquino, do Departamento de Climatério da Unifesp. “Nesse sentido, é muito importante o que essas artistas estão fazendo. O conhecimento liberta.”

No caso das peças em cartaz em São Paulo, a escolha para transmitir o conhecimento foi a partir da comédia. Não por coincidência. “O humor é uma forma de você conseguir passar pelos desafios da maturidade de um jeito mais agradável, de rir da desgraça”, diz Juliana Araripe, 47, uma das atrizes e roteiristas da ótima “Mulheres em Chamas”.

Nas redes sociais

Embora neste ano esteja havendo uma onda de trabalhos colocando a menopausa na roda de discussão, o movimento de famosas falando sobre o assunto no Brasil começou um pouco antes. Uma das pioneiras foi Claudia Raia mesmo. Nas redes sociais, a atriz já fala há alguns anos sobre isso, assim como suas colegas Ingrid Guimarães e Mônica Martelli.

Lá fora, quem começou a falar publicamente foram celebridades como a apresentadora Oprah Winfrey e a ex-primeira-dama Michelle Obama. E, em janeiro deste ano, a atriz britânica Naomi Watts lançou o livro “Vou Te Contar”. Nele, ela narra como foi ignorada por médicos que, quando ela contava de seus suores noturnos, ouvia que era estresse. Como as outras mulheres citadas aqui, Naomi também mostra que não há nada de fim e, sim, recomeço.

“Falar sobre isso é um caminho sem volta”, diz a ginecologista Juliana. Tomara.



Fonte ==> Uol

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