As definições a seguir foram colhidas em dois livros de referência, “Dicionário de Futebol“, de Haroldo Maranhão, e “O ABC das Arquibancadas”, de Leonam Penna. Marmelada: arranjo entre dirigentes e jogadores ou conluio entre eles para fraudar o resultado de uma partida; o mesmo que mutreta. Gaveteiro: juiz ou jogador que se deixa subornar. Malaquias: indivíduo encarregado de subornar jogadores e árbitros; o dinheiro iria numa mala.
Esse tipo de folclore, com fundo de verdade, é inerente ao futebol. Estão aí as histórias do bicheiro Castor de Andrade, patrono do Bangu, e aquela contada no filme “Boleiros”, de Ugo Giorgetti, em que o árbitro (Otávio Augusto, em interpretação impagável) marca um pênalti, manda a cobrança voltar duas vezes e troca o batedor —até que a bola finalmente entra.
Um clássico da conversa de taxista é garantir que o Brasil entregou a Copa de 1998, na França, com direito a piripaque de Ronaldo Fenômeno e tudo. A armação seria bancada por uma poderosa empresa de material esportivo que, em troca, garantiria a conquista do Mundial da Ásia em 2002 (a seleção ganhou com gols de Ronaldo na final).
O que antes era considerado uma teoria da conspiração ingênua ou mirabolante hoje é real. Recente Datafolha apontou que a maioria dos brasileiros acredita que os sites de apostas esportivas aumentam a possibilidade da combinação de resultados.
Quando um jogador leva cartão vermelho com 29 segundos de partida —ocorreu na decisão da Copa Libertadores entre Botafogo e Atlético-MG—, logo alguém considera a existência da mutreta. Se o craque do time perde um gol cara a cara com o goleiro, é possível que ele esteja na gaveta. Um simples escanteio virou motivo de dúvida atroz.
O motor da desconfiança tem um apelido simpático: bets. Passaram a inundar o mercado a partir de uma medida provisória editada no último mês do governo Temer. Sob Bolsonaro correram soltas e foram regularizadas por Lula. Para enfrentar os evangélicos montaram um lobby pró-jogatina dentro do Congresso e agora lançaram um candidato à Presidência. Se o nome dele fosse Malaquias, seria perfeito.
Fonte ==> Folha SP