A festa era de Clark Gable, mas quem roubou a cena foi Spencer Tracy. Depois de beber uma quantidade astronômica de álcool, o ator subiu numa mesa e, mostrando equilíbrio notável, dadas as circunstâncias, recitou Shakespeare, para delírio da plateia.
Tracy nasceu há exatos 125 anos. Dizia não querer ir para o paraíso quando morresse: “prefiro ir para o Claridge’s”. Estava se referindo ao hotel de luxo em Londres, onde atores de Hollywood costumavam se hospedar. O bar do hotel tem um menu de drinques de 32 páginas. Afora os coquetéis, a especialidade é champanhe: todas as melhores e mais caras marcas estão à disposição.
O ator de “Adivinhe Quem Vem Para Jantar?” tinha períodos de seca e outros em que bebia industrialmente. Apesar de ser considerado um beberrão funcional, pois atuava magnificamente mesmo depois de uns copos a mais, chegou a ser preso duas vezes. Como garantia, o estúdio tinha uma “brigada Tracy”, para localizá-lo em qualquer espelunca e trazê-lo para a frente das câmeras, de cara limpa.
Às vezes não era preciso ir tão longe. Durante as filmagens de “A Costela de Adão”, Tracy desafiou a colega de cena Judy Holliday para um duelo de bebida. Foram inúmeros copos batidos na mesa, risadas e bravatas. A noite passou e não teve um vencedor. Sobraram as garrafas como testemunhas.
Em pelo menos uma ocasião, Spencer Tracy bebeu com Bette Davis, também nascida neste dia 5, mas em 1908. Foi na cerimônia do Oscar de 1939, quando ambos venceram, melhor ator e melhor atriz. Considerando a sede envolvida, a celebração deve ter sido épica. Atuaram juntos uma vez, em “20.000 Years in Sing Sing”, em que ele faz um preso no corredor da morte e ela é sua namorada.
Com uma beleza não convencional, de olhos grandes, cheios de malícia, interpretou várias atrizes, como em “A Malvada”, em que diz, numa festa: “Apertem os cintos, a noite vai ser movimentada”, para depois entornar um gibson. Já em “Lágrimas Amargas”, sua atriz está em decadência. Ela pega sua estatueta do Oscar e informa: “hoje eu e você vamos encher a cara!”
Conhecida pela forma rigorosa com que trabalhava, alterando roteiros e desobedecendo diretores, fez vários papeis em que seu temperamento provocador era aproveitado. “Jezebel” traz Davis como uma beldade de New Orleans. Ela desafia a sociedade ao usar vestido vermelho num baile. Sua aparição enrubesce solteiras como ela, que devem usar branco, seguindo a convenção. O vermelho é o demo, associado a sexo e revolta.
Em chave menor, o vinho branco estava em sua lista negra. “Jamais confie em quem toma vinho branco”, dizia. “São todos falsos, tratam como se não fosse bebida.”Em compensação, quem tomava champanhe ganhava pontos com ela : “Chega uma hora na vida de uma mulher quando a única coisa que ajuda é uma taça de champanhe.”
CURTAIN CALL
30 ml de champanhe
3 folhas de manjericão
40 ml de rum claro
20 ml de suco de limão siciliano
15 ml de xarope de açúcar
10 ml de Campari
Macere o manjericão numa coqueteleira. Acrescente os ingredientes seguintes e gelo. Bata e coe para uma taça coupe gelada. Finalize com o champanhe e uma azeitona preta.
Fonte ==> Folha SP