O recuo do governo dos Estados Unidos no desenvolvimento da economia verde, anunciado nesta semana pelo recém-empossado presidente Donald Trump, deve ser visto sob dois aspectos interligados.
De um lado, são muito preocupantes as medidas tomadas, como, por exemplo, o fim do “Green New Deal” (um conjunto de políticas para combater a mudança climática), a saída do Acordo de Paris e a revogação dos incentivos para carros elétricos. De outro, paradoxalmente, a perda de confiança nos EUA significa para o Brasil ainda mais oportunidades de atração de investimentos internacionais em energias limpas e renováveis, em particular em biocombustíveis e usinas eólicas e solares.
Recentemente, tenho mostrado as enormes perspectivas que se abrem, em encontros com empresários, investidores e autoridades internacionais em agendas no Oriente Médio e nos painéis e reuniões de negócio em Davos (Suíça), onde representei o Brasil no Fórum Econômico Mundial, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos encontros, deixo patente que somos a nação mais preparada no planeta para receber capital estrangeiro, com o suporte de marcos legais como do Combustível do Futuro, das Eólicas Offshore e do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, resultantes de parceria desde 2023 entre o governo federal e o Congresso Nacional. Isso garante segurança jurídica e regulatória aos investidores.
Um exemplo em Davos foi o painel “Environmental Economic Factor – Integrating the Socioeconomic Benefit of Biofuels”, no qual houve destaque para a Lei do Combustível do Futuro. A norma estabelece uma série de iniciativas de fomento à descarbonização e à mobilidade sustentável. Dessa maneira, o segmento galga um novo patamar de produção e consumo numa cadeia que envolve o agronegócio, a agricultura familiar e a geração de energia.
Suas ações se destinam à expansão dos biocombustíveis na matriz energética, mediante novos percentuais de mistura de biodiesel e etanol no transporte terrestre, uso do SAF (combustível sustentável de aviação) e avanço do biometano.
O amplo portfólio de oportunidades do Brasil inclui a atração de data centers, que são enormes consumidores de energia e necessitam de fornecimento regular e ininterrupto de eletricidade limpa, para os projetos de inteligência artificial e computação nas nuvens.
Outra área promissora é a dos minerais críticos e estratégicos, recursos naturais usados na produção de baterias e componentes de carros elétricos, bem como em turbinas eólicas e painéis solares. O Brasil dispõe de reservas conhecidas muito expressivas, sendo primeiro no ranking mundial de nióbio, segundo em grafita e terceiro em níquel e terras raras, bem como sétimo em lítio. Há pelo menos 50 projetos de minerais para a transição energética em andamento.
Todos esses recursos financeiros ajudarão a impulsionar no país um novo modelo de desenvolvimento, que terá como alavanca a transição energética, com mais empregos e melhor qualidade de vida para a população de todas as regiões.
O setor energético mundial enfrenta desafios, especialmente impulsionados por tensões geopolíticas e ambiente econômico volátil, agora redimensionados pelas alterações do governo dos Estados Unidos.
Já antes da posse de Donald Trump, registrava-se uma modificação no ânimo do mercado, conforme informou o jornal britânico Financial Times, segundo o qual, diante de incertezas com o governo eleito, investidores retiraram US$ 30 bilhões de fundos de energia limpa em 2024.
Foi o primeiro ano, desde 2019, em que os investidores retiraram mais dinheiro do que depositaram, segundo o texto. Os ativos sob gestão cresceram mais de sete vezes nos quatro anos anteriores, alcançando um recorde de US$ 541 bilhões. No entanto, esse valor caiu pela primeira vez para US$ 533 bilhões no ano passado.
Na qualidade de nação reconhecida pelo respeito aos princípios da transição energética, o Brasil sai na frente ao oferecer um diferencial como alternativa para multinacionais e fundos que valorizam os atributos verdes para seus investimentos, comprometidos com a descarbonização e o imprescindível enfrentamento da mudança climática.
No novo cenário introduzido por Donald Trump, cresce a responsabilidade do nosso país em seu papel de liderança mundial na transição energética.
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Fonte ==> Folha SP