Search
Close this search box.

Como o funk e a bossa nova invadiram o k-pop – 10/06/2025 – K-cultura

Como o funk e a bossa nova invadiram o k-pop - 10/06/2025 - K-cultura

Lisa, integrante do Blackpink, dançou ao som de um remix de “Tô Trajadão”, de MC Kaverinha, em apresentação no desfile da Victoria’s Secret, retomado em outubro, e levou o funk ao palco do Coachella deste ano. J-Hope, do BTS, exibe um vídeo com batidas do gênero na sua turnê atual.

Os artistas, que estão entre os maiores do pop da Coreia do Sul, reforçam uma tendência dos últimos meses: o funk está dominando o k-pop. O ritmo das favelas brasileiras tem aparecido em performances, lançamentos de grupos e parcerias com nomes nacionais.

Um dos responsáveis por levar o funk à indústria sul-coreana é o Tropkillaz, duo de produtores brasileiros. Eles co-produziram “Chill”, canção com batidas do gênero que Lisa cantou no principal festival de música americano. Em seguida, seus dançarinos fizeram uma performance com um batidão.

Zegon e Lautz começaram a produzir músicas para gravadoras sul-coreanas por intermédio de um produtor americano que trabalha com k-pop, Dem Joitz. Veio o convite para criar um remix de “Better Things”, música do Aespa, grupo feminino popular. “Aí a gente falou: vamos fazer um funk”, diz o duo.

Na mesma época, setembro de 2023, produziram “Back For More”, cantada por Anitta e TXT, grupo da mesma empresa do BTS. A música é o ápice da ligação entre funk ek-pop, e a funkeira carioca foi a primeira artista brasileira de peso a fazer feat com um nome coreano grande. A parceria rendeu clipe e apresentação ao vivo no VMA.

“Isso é algo muito novo para nós, não conhecíamos esse universo. Estamos achando divertido”, diz Zegon. “Mesmo fazendo funk e ficando conhecido por isso, a gente vem do hip hop, sempre misturamos estilos. E o k-pop é meio que tudo junto ao mesmo tempo.” Lautz completa: “Ficamos bem felizes por poder levar nossa música para outros lugares. E mais importante é levar o nosso som”.

Anitta é um dos principais nomes a exportar o funk –seu álbum “Funk Generation” foi indicado ao Grammy. A revista britânica The Economist diz que o gênero brasileiro vai virar febre global. Essa nova onda do funk é mundial –e o k-pop, conhecido por misturar gêneros, está antenado no que está em alta.

“O funk está chegando no mainstream da Coreia do Sul. É um diálogo que estava borbulhando e agora chegou nos artistas maiores”, afirma Maria Luísa Rodrigues, que pesquisa a música do país asiático em mestrado na Universidade Federal Fluminense. “Esse movimento mais explícito do funk no k-pop é mais recente, a partir dos anos 2020, puxada por parcerias anteriores e covers, que ajudaram a preparar o terreno”, explica.

O quinteto Meovv escolheu o ritmo brasileiro para a estreia, em setembro do ano passado. Em “Meow”, as batidas fortes são bem presentes no “dance break”. Elas repetem a inspiração musical no trabalho mais recente, “Hands Up”, lançada há um mês.

Tri.be, grupo feminino produzido por Shinsadong Tiger, que foi um dos principais compositores do pop da Coreia do Sul, traz influências latinas às músicas, incluindo o funk, presente em faixas como “Twit” e “Doom Doom Ta”.

Batidas acompanhadas por uma frase cantada em português, “Se bater de frente, ele humilha qualquer um”, aparecem no remix de “Fact Check”, do NCT 127, criado pelo produtor coreano 2Spade. Outros nomes grandes do k-pop têm usado influências do funk, mesmo que de maneira mais diluida –casos de “Like Jennie”, de Jennie, do Blackpink, e “Fire”, do Seventeen.

Mas há também casos mais antigos. Há seis anos, Jay Park lançava “V”, música com uma batida clássica de funk de fundo. O artista tentou fazer uma parceria com o funkeiro MC Binn, em 2018, que não foi para frente.

“O funk tem uma sonoridade de vanguarda que o k-pop sempre gostou de reinterpretar, e de se aproximar dos gêneros globais”, explica Maria Luisa, da UFF. Ela observa, no entanto, que não necessariamente seja conhecido seu contexto histórico e da esfera marginalizada. O funk entra mais na esfera de um ritmo pop pensado para ser a dança, ponto forte do k-pop.

Não à toa, o funk tem entrado entre artistas sul-coreanos por meio de dancinhas gravadas para as redes sociais, as “trends”. Karina, uma das integrantes do Aespa, viralizou ao fazer uma coreografia de “Bola Rebola” no TikTok. Virou febre entre os ídolos de k-pop fazer a “dança do ombrinho” e dançar “Bonde do Brunão”, música inspirada no funk que Bruno Mars criou durante turnê no Brasil, no ano passado.

“É uma característica do gênero, não só da dança, mas da dança viral. O funk chegou num patamar de relevância internacional que agora é interessante para o k-pop entrar também”, diz Rodrigues. “O Brasil é uma moeda valiosa para engajamento, então esses artistas estão correndo atrás disso.” Ela observa ainda como estúdios de dança coreanos, como o popular 1 Million, gravam coreografias para funks.

Essa onda também é interessante para o Brasil, diz a pesquisadora. “A Coreia do Sul está em ascensão no cenário global e a gente se vê reconhecido nesse movimento, é interessante nos associar uma marca que deu certo.”

Outro ritmo brasileiro que tem aparecido com mais frequência no k-pop é a bossa nova. Lançada há três semanas, “Elevator” começa com riffs tipicos. A música é de Baekhyun, integrante do EXO e um dos principais cantores solos do pop sul-coreano, que já havia explorado o ritmo em outros trabalhos, como em “Rendez-Vous”, do ano passado.

J.Y. Park, à frente de uma das principais empresas do k-pop, a JYP Entertainment, citou artistas como João Gilberto, Tom Jobim e Nara Leão, e a música “Chega de Saudade” como inspiração para compor “Alcohol Free”, lançada em 2021 pelo Twice, grupo feminino de sucesso.

Le Sserafim, da mesma Hybe do BTS, lançou um remix com o ritmo brasileiro de “Come Over”, em março. IU, uma das principais cantoras solo, usa referência em várias musicas, como “Obliviate” e “Havana”. Há ainda vários outros exemplos, como “Roller Coaster”, do Nmixx, “Melt Away”, de Taeyeon, e “LP”, de Red Velvet”.

A bossa nova já é mais estabelecida na Coreia do Sul. Nomes como Gilberto Gil e Caetano Veloso esgotam shows no país asiático, e em 2023 Sergio Mendes foi headliner de um festival de jazz. “Aqui no Brasil, Sérgio Mendes é enorme, mas não se vê uma multidão de jovens animados para vê-lo como se vê por lá”, comenta Rodrigues.



Fonte ==> Uol

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia Também