Para todo lado que se olhe, só aparecem más notícias sobre natureza e clima. Sobram desastres causados pelo aquecimento global e pululam atividades humanas que o realimentam.
Dois lugares lindos perdem gelo em ritmo frenético, premidos no efeito estufa turbinado pela queima de combustíveis fósseis: a geleira Perito Moreno (Argentina) e o arquipélago de Svalbard (Noruega).
Svalbard abriga uma fortaleza incrustrada na montanha que foi reportagem da Folha em 2018, o Cofre de Sementes. Naquele ano o depósito crucial para a agricultura já enfrentava chuva e infiltrações, algo impensável quando inaugurado dez anos antes.
Imagine agora que o oceano Ártico e o continente europeu enfrentam altas de temperatura mortíferas. O título da reportagem de José Henrique Mariante já diz tudo: “Até Lapônia, terra de Papai Noel, sofre com onda de calor na Europa”. No fim de julho, toda a Escandinávia suou com 2ºC acima do normal.
A Europa ocidental viveu o junho mais quente da história. O verão em Portugal e na Espanha teve vários dias acima de 40ºC e picos de 46ºC. Ondas de calor que só atingiam Londres de seis em seis décadas ora se repetem em seis anos.
Levantamento em uma dúzia de grandes cidades europeias constatou 2.305 mortes por calor extremo em dez dias, de 23 de junho a 2 de julho. Destas, 1.504 teriam sido causadas pelo excesso de temperatura agregado pela crise climática, estima relatório do Instituto Grantham.
Na França, explodem vendas de aparelhos de ar-condicionado, que políticos já cogitam subsidiar, aumentando o consumo de energia. A canícula alimenta incêndios florestais, que queimaram área de vegetação 87% maior que em 2024.
No Brasil a destruição de florestas –maior fonte nacional de gases do efeito estufa– arrefeceu na gestão de Marina Silva, fato. Mero fotograma no filme de terror que vimos rodando nos últimos 40 anos, como revela a nova coleção de mapas do MapBiomas.
Um terço do país foi devastado para a agropecuária nessas quatro décadas –área menor que de outros países, OK. Podemos nos vangloriar de que 65% do território ainda exiba vegetação natural, mas segue aceso nosso empenho em derrubar tudo (basta ver o Congresso assanhado para derrubar os 64 vetos ao PL da Devastação).
Quem duvidar dessa vocação ecocida que atente para o dado do MapBiomas: só nos últimos 40 anos, de 1985 a 2024, quase 1,2 milhão de km2foram desmatados por aqui. Dá 13% do território nacional. Uma Bolívia inteira entregue às queimadas, mas a bancada ruralista quer mais combustível fóssil no fogo.
Os amigos do alheio Davi Alcolumbre (União-AP) babam com ele pelo petróleo da Foz do Amazonas. Se esses blocos se provarem, a produção alcançaria o pico na década de 2030, quando nenhum poço petrolífero mais deveria elevar a produção, se fosse para cumprir a meta de conter o aquecimento em 1,5ºC (Paris, 2015).
Hoje, contudo, o mercado petroleiro dá sinais de perturbação grave. A Agência Internacional de Energia projeta que a oferta global de óleo aumentará mais que o previsto neste e no próximo ano. Já a demanda cresce a menos da metade do ritmo de 2023, desequilíbrio que vai inviabilizar economicamente a margem equatorial.
Podem chamar de viés de confirmação.
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Fonte ==> Uol