Por vezes, uma página da internet comunica-me o seguinte: “Verificando se você é humano. Isso pode levar alguns segundos.” Acho um desaforo. Na vida que decorre fora da internet, ninguém parece ter dúvidas de que eu sou humano. Mas o meu computador hesita. Pelo visto, acredita que posso ser outro tipo de mamífero. E, sabendo que não há notícia de muitas girafas navegando no ciberespaço, e tendo em conta as parecenças físicas, em princípio está convencido de que sou um macaco.

E não é uma daquelas ocasiões em que a gente olha de relance, tem uma ilusão de ótica, e depois volta a olhar e percebe que se enganou durante um instante, como quando vemos uma pedra que parece um sapo, ou assim. Não, não. Ele precisa de uns bons segundos para perceber se eu sou um ser humano ou um macaco.

É revoltante. Quem é a internet para decidir se eu sou humano ou não? Que competências julga ter para fazer esse julgamento?

Lendo as coisas desumanas que abundam na internet, especialmente em caixas de comentários de jornais, como é que ficou estabelecido que os autores daquelas mensagens eram, contra todas as evidências, humanos?

Creio que o problema é a ideia que a internet faz de nós. Para detectar se somos humanos, ela concebe testes do gênero: indique as fotografias em que se encontra um semáforo, ou uma moto, ou uma faixa de pedestre.

Os filósofos há milênios tentam descobrir o que faz de nós humanos. Ao que parece, a internet já sabe: é a nossa capacidade para identificar coisas relacionadas com trânsito rodoviário. Quem diria. Confesso que esperava testes diferentes.

“Verificando se você é humano. Exiba empatia por este órfão.” Ou: “Demonstre que tem consciência de si próprio.” Ou ainda: “Domine o fogo e construa uma ferramenta para pescar.” Mas, para a internet, humano é aquele que sabe de circulação automóvel.

O que significa que os elementos mais admiráveis da nossa espécie serão, para a internet, os taxistas. Era inevitável. Olhando para o que se escreve online, é natural que a internet pense que os humanos são aquele tipo de ser que profere as coisas que normalmente são ditas ao volante de um táxi.

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