São Paulo
A diretora Anna Muylaert anunciou a atriz Ayla Gabriela como a nova protagonista do filme “Geni e o Zepelim”, adaptação da canção de mesmo nome de Chico Buarque. Muylaert havia escalado a atriz Thainá Duarte para o papel, mas recebeu críticas da comunidade LGBTQIA+ pela escolha de uma artista cisgênero para dar vida a uma personagem travesti.
Na ocasião, a diretora publicou um comunicado em suas redes sociais dizendo que a letra de Chico e o conto de Guy de Maupassant, no qual o cantor diz ter se inspirado, poderiam ter várias leituras e, “por uma questão de lugar de fala, escolheu fazer uma prostituta cis na Amazônia”.
“Diante da reação da comunidade trans, eu quero vir aqui abrir o debate e jogar a pergunta: essa letra do Chico, o mito Geni hoje em 2025 só pode ser interpretada como uma mulher trans? Se toda a sociedade, não apenas a comunidade trans, mas todos os fãs da música, se a gente computar que realmente só podemos interpretar a Geni como trans, a gente vai repensar o filme”, disse a cineasta.
Nomes como os das atrizes e diretoras trans Renata Carvalho e Galba Gogóia, além de Camila Pitanga, Majur e Liniker, se posicionaram a favor da escalação de uma atriz trans para o papel.
Dias depois, Anna Muylaert anunciou a mudança da protagonista em comunicado divulgado no Instagram da produtora Migdal Filmes, que vai lançar o filme. “A decisão foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade”, dizia a nota.
Muylaert fez um vídeo para comentar a mudança. Pediu desculpas às pessoas trans que se sentiram ofendidas com sua escolha e agradeceu pelo debate. Pediu perdão também à atriz Thainá Duarte, antes escolhida para o papel, e se responsabilizou pelos comentários supostamente ofensivos que Duarte estaria recebendo.
O filme marcará a estreia de Ayla como protagonista em um longa-metragem. Atriz e bailarina, ela já protagonizou os curtas “Pássaro Memória”, de Leonardo Martinelli, e “Defesa Pura”, de George Pedrosa, além de ter dirigido e atuado em “A corpa fala”.
O elenco traz ainda Seu Jorge como o comandante do Zepelim —ele se apaixona pela prostituta ribeirinha. As gravações começam em breve na Amazônia.
Fonte ==> Folha SP