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A língua é a razão pela qual você consegue sentir gostos, falar e engolir, mas provavelmente você não dá tanta atenção assim para ela no dia a dia —exceto caso tome um café quente demais e queime toda sua superfície.
Ela é um órgão muscular com múltiplas funções e, dentro de toda a sua complexidade, também pode sinalizar problemas de saúde. Por isso, prestar mais atenção nela é fundamental.
Entre os papéis mais conhecidos da língua estão o paladar, responsável pela percepção de sabores; a fonação, ou seja, a produção dos sons da fala; e a mastigação e deglutição.
Ela também ajuda a manter a saúde bucal, limpando dentes e boca, identifica texturas, variações de temperatura e até dor. Dentro dessas funções táteis, a língua ainda é um órgão de prazer.
Muita coisa, não é? E tem mais: ela pode revelar alterações de saúde que exigem atenção médica.
“Em função de toda essa complexidade, ela pode ser sítio de várias doenças e também sinalizar alterações bucais ou sistêmicas, que podem envolver outros órgãos do corpo”, diz Norberto Sugaya, professor associado do Departamento de Estomatologia e da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo).
Qual o aspecto normal? Uma língua saudável tem coloração rosa-clara e textura homogênea. A palavra “textura” aqui é importante: a língua não é lisa, ela tem papilas que revestem seu dorso.
A superfície inferior (ou ventre) é uma mucosa de revestimento lisa, explica Sugaya. Já o dorso é revestido por uma mucosa chamada especializada, com quatro tipos diferentes de papilas gustativas.
- As papilas são pequenas saliências que atuam como receptores e transmitem informações ao cérebro sobre sabores e texturas.
Quais alterações podem acontecer? A língua pode apresentar mudanças de coloração e textura, algumas delas associadas a desequilíbrios, deficiências nutricionais, falta de higiene ou doenças mais graves. Veja os principais sinais:
Língua esbranquiçada: pode indicar um desequilíbrio na microbiota bucal, ou seja, nas centenas de bactérias e fungos que vivem na boca e participam do processo de digestão e manutenção da saúde oral, segundo o professor da USP. O uso de antibióticos, por exemplo, pode ser um dos causadores.
Também pode ser característica da saburra lingual, quando uma placa se acumula no dorso da língua. Dependendo da alimentação, pode assumir tonalidades amareladas ou amarronzadas. Fumantes, por exemplo, costumam ter esse acúmulo mais escuro.
Esses dois casos não são indicativos de doenças. Uma mudança de hábitos ou limpeza mais frequente podem resolver.
Placas brancas semelhantes à coalhada de leite são um dos sintomas da candidíase oral, infecção por fungos também conhecida como sapinho. Pode acometer adultos imunossuprimidos e crianças durante a fase de amamentação.
Avermelhada: uma língua totalmente vermelha pode ser sinal de um problema sistêmico mais grave, como anemia ou deficiência de alguma vitamina.
Manchas vermelhas isoladas e espalhadas pelo dorso, por outro lado, tendem a ser menos preocupantes. Podem indicar a chamada glossite migratória benigna, ou língua geográfica —uma condição comum em crianças e jovens, geralmente temporária, segundo Sugaya.
Fissuras: também são comuns na população, principalmente em adultos e idosos, e são apenas uma variação anatômica, sem ligação com doenças.
Quem tem língua fissurada precisa tomar mais cuidado com a higiene e apostar em limpadores de língua para mantê-la mais limpa. A depender da profundidade das fissuras, pode haver retenção de resíduos alimentares ou favorecer o desenvolvimento de bactérias e fungos, afirma o professor.
Superfície lisa: quando a língua perde suas papilas e textura característica, é chamada de língua careca. Isso pode acontecer por deficiência de vitamina B ou anemias severas.
Feridas: estão normalmente associadas a doenças autoimunes, como a doença de Crohn, doença celíaca, síndromes que envolvem o intestino e, eventualmente, processos alérgicos ou sensibilidade, diz Sugaya.
Menos saliva: alterações na produção de saliva atrapalham a qualidade de vida do indivíduo e alteram bastante o aspecto do órgão. “A língua se movimenta dentro da boca e precisa de lubrificação. A ausência ou redução de saliva traz desconforto, aumenta o risco de cáries e de infecções locais”, relata o especialista.
A boca seca pode ser sintoma da síndrome de Sjögren, uma doença autoimune que afeta as glândulas produtoras de saliva.
“A língua, por ser um órgão complexo, está sujeita a muitas alterações, doenças inflamatórias, infecciosas, tumorais e até distúrbios de desenvolvimento”, comenta o professor da USP.
O diagnóstico das alterações na língua deve sempre ser individualizado. No caso de incômodos, dores ou ardências, busque um médico ou cirurgião-dentista para uma avaliação. Mesmo no caso de alterações temporárias e sem riscos, o profissional poderá ajudar você a ter mais qualidade de vida.
Dica final: como limpá-la? Pode ser com a própria escova, um limpador ou raspador de língua, que remove a camada de matéria orgânica que se acumula nela. Deve ser feita uma vez por dia, preferencialmente após acordar.
- Não é preciso colocar força. Use o raspador de forma suave, sem machucá-la.
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Fonte ==> Uol