Meu marido adora os vídeos dos julgamentos de Frank Caprio, um juiz municipal em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos.
O juiz, de 88 anos, ficou famoso por sua empatia e bom humor nos julgamentos de casos de infrações de trânsito. Sua postura como juiz pode ser resumida nas seguintes ideias: “acho que devo levar em consideração se alguém está doente, se a mãe morreu e se tem filhos famintos. Eu não uso um distintivo por baixo da toga: uso um coração por baixo da toga. Não estou tentando mudar o mundo, mas estou tentando fazer a minha parte”.
Depois de uma discussão boba ou “totalmente desnecessária”, como meu marido diz que são 95% das nossas brigas, ele me enviou o vídeo “Happily Married?”, publicado no canal do YouTube “Caught in Providence”.
O vídeo de sete minutos mostra Frank Caprio julgando um casal por infração de trânsito. O juiz pergunta ao casal: “Quantos anos vocês estão felizes no casamento?”. O marido responde: 44; a esposa, com os dedos, mostra que são apenas dois. O juiz dá a sua primeira gargalhada. Ele então pergunta: “Qual é o segredo de um casamento de 44 anos?”
A esposa responde: “Ele sempre concorda com o que eu faço e com o que eu digo. Tudo o que eu digo, ele diz: ‘OK, baby!’. É isso”.
O juiz faz a mesma pergunta ao marido: “Qual é o segredo de um casamento de 44 anos?” O marido responde: “Ela acabou de lhe contar”. Mais risadas do juiz.
A esposa enfatiza: “Tudo o que eu faço, ele diz: ‘OK, baby!’. Tudo o que eu digo, ele diz: ‘OK, baby’. É isso”.
O juiz diz que eles têm duas multas de mais de 31 dólares, mas que vai cobrar apenas uma, no total de 50 dólares. E pergunta: “Você pode pagar isso hoje?”
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O marido responde: “Eu não posso, senhor”. A esposa diz em seguida: “Sim, eu vou pagar isso, meritíssimo”. O marido imediatamente concorda: “OK, baby!”. E as risadas explodem no tribunal.
Desde que assisti ao vídeo, não tivemos mais briguinhas bobas e desnecessárias aqui em casa. Qualquer possível desentendimento, eu respondo com: “OK, baby!”. E damos risadas.
Desde 1990, pesquiso diferentes tipos de arranjos conjugais e já escrevi sobre as brigas e conflitos mais comuns entre as centenas de casais que entrevistei. Chamei alguns de “casais gun”: aqueles que preferem brigar; os outros chamei de “casais fun”: aqueles que gostam de brincar. Para os “casais gun”, DR é sinônimo de “discutir a relação”; para os “casais fun”, DR é “dar risadas”.
Sei que é impossível não brigar ou não me irritar com meu marido, como eu adoraria. E vice-versa. Ele é explosivo: grita, xinga, coloca toda a sua raiva e irritação para fora. Eu sou implosiva: fico horas e até mesmo dias sem falar com ele após uma briguinha boba. Mas estamos aprendendo a lidar de uma forma mais madura, saudável e divertida com as nossas brigas e discussões desnecessárias.
Cheguei à conclusão de que casais mais adoecidos são viciados em brigar; e que casais mais saudáveis preferem brincar. Brincar, em vez de brigar, tem sido o melhor remédio para a saúde do meu casamento e para a minha própria saúde física e psicológica. Mas dá trabalho: para brincar, em vez de brigar, é preciso ter muita inteligência emocional, bom humor, escuta, equilíbrio e maturidade. E nunca esquecer de uma frase que já virou clichê: “é melhor ser feliz do que ter razão e ganhar a discussão”. OK, baby?
Fonte ==> Folha SP