O retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos não representa uma ameaça à democracia: pelo contrário, a fortalece. Trump canalizou os anseios daqueles que pagam impostos e sustentam a nação. Estereotipá-lo é um grande desrespeito com a maioria dos norte-americanos.
Independentemente das simpatias ou antipatias que se possam ter em relação ao presidente dos EUA, a democracia é um instrumento que não pode ser relativizado sob nenhuma circunstância. A eleição de Trump é a expressão do desejo da maioria, peça central em qualquer regime que se preze democrático, e não pode ser menosprezado.
Os fatos confirmam essa percepção. Nas eleições de 2024, Trump não apenas consegue se eleger, mas obtém maioria absoluta nas duas Casas do Parlamento, com uma avalanche de votos. E tudo isso após quatro anos de uma administração do Partido Democrata. Não foi uma reeleição, mas um novo processo em que a maioria dos norte-americanos optou legitimamente por sua volta à Casa Branca.
Trata-se, por tanto, de um fenômeno que deveria provocar profundas reflexões acerca do papel de cada um em uma democracia verdadeira. Governos, regimes autoritários e líderes autocráticos têm contado com parcela considerável da sociedade que, a pretexto da defesa dos valores democráticos, assassina reputações e promove cancelamentos em massa. A maioria do povo dos EUA foi às urnas e devolveu a cadeira de presidente àquele que se mostrou mais próximo de suas demandas. Aos demais, fica a lição de que a democracia deve ser defendida e protegida, principalmente quando perdem.
O retorno de Trump também é um recado claro às burocracias que impõem normas transgredindo os valores fundamentais de uma democracia representativa, onde os eleitos têm a legitimidade para debater e promover mudanças.
Neste sentido, é igualmente bem-vindo o retorno de Trump ao poder. Os EUA, acusados de atuarem como os xerifes do mundo, sob sua liderança estarão mais voltados aos problemas internos, aqueles que dizem respeito a pessoas comuns. Afinal, não é para isso que elegemos um presidente? Para melhorar a vida das pessoas?
No plano externo, vemos um líder que influencia a resolução de crises de uma forma inata. Em seu primeiro mandato, Donald Trump arrancou os Acordos de Abraão, que se mostraram promissores quanto a uma paz duradoura no Oriente Médio. Agora, antes mesmo de assumir, logrou a implementação de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, algo que nenhuma liderança havia alcançado. Nesse sentido, é válido crer numa solução para a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que, em fevereiro, completará três anos.
Portanto, é razoável acreditar que Trump, longe de ser uma ameaça à democracia, atue para revigorá-la. Para tanto, terá de adotar medidas duras contra regimes usurpadores e violentos, como temos na Venezuela e na Nicarágua. O presidente dos EUA se mostra capaz de agir, enquanto a maioria prefere o conforto da retórica e a política das declarações oficiais.
Fica, ainda, a lição necessária sobre o sistema multilateral vigente. Àqueles que o criticam, estão os fatos que mostram uma ONU divorciada da realidade e sequestrada por uma ideologia que não representa os valores que a forjaram. Com Trump, poderemos retomar a discussão sobre esta e outras organizações, caras e pesadas, que precisam urgentemente de reformas.
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Fonte ==> Folha SP