Dos 18 anos que o Oasis existiu antes desta volta, a banda parece gostar mesmo só dos seis primeiros.
No show de retorno, no País de Gales, 22 das 23 músicas eram dos três primeiros álbuns, uma confissão dos próprios Gallagher de que só foram bons para valer no início, entre 1991 e 1997. Quem é fã do que foi produzido após os anos 2000 não tem por que pagar essa dinheirada toda para vê-los juntos outra vez.
Também não faria sentido se o repertório incluísse muitas faixas da época. Há um abismo entre a trinca “Definitely Maybe”, “(What’s the Story) Morning Glory?” e “Be Here Now” e o resto. O repertório em Cardiff também teve canções de “The Masterplan”, de 1998, mas o disco é uma coletânea de lados-b do início.
É até curioso que os músicos da atual banda de apoio de Noel e Liam —os anúncios da turnê deixaram claro que apenas os dois são o Oasis— sejam justamente do período final do grupo. A justificativa pode ser a de que os substitutos de Bonehead, Guigsy e Alan White, muitas vezes considerados limitados ou apenas competentes, são músicos melhores, mais técnicos. Como se o Oasis fosse um Rush ou um Van Halen…
O Oasis nunca foi uma democracia, sempre foi uma ditadura em que só Noel e Liam brilhavam. A formação clássica era discreta —e, sim, limitada e apenas competente—, mas deixava o som mais direto, sem tantas firulas de timbres e baladas melosas. “Stop Crying Your Heart Out”, por exemplo, é tema de novela ruim.
Por isso, bom ver que a volta teve um pouco de tosquice, seja pela presença de Bonehead ou pelas músicas mais cruas, como “Bring It On Down” e “Fade Away”, não exatamente favoritas do público em geral. A parte estética foi na mesma linha. Palco sóbrio, sem explosões e sem se render a exibições forçadas de afeto.
Noel e Liam entraram no palco de mãos dadas, um gesto breve, e passaram o resto do tempo separados por metros. Nas fotos distribuídas por agências de notícia eram poucas as imagens em que os dois estão no mesmo quadro. No final, deram um abraço que mal dá para definir como abraço. Eles se encostaram.
Houve dois momentos diferentes. A banda dedicou “Live Forever” a Diogo Jota, jogador que morreu em um acidente de carro na véspera. A homenagem a um atleta do Liverpool, não do Manchester City, time do qual são torcedores, foi bonita e deu atualidade ao show. Liam também pediu em “Cigarettes & Alcohol” que o público virasse de costas e se abraçasse, como torcidas de futebol. Interações do tipo são raras no Oasis.
De resto, foi um show de rock. “Supersonic”, “Roll With It”, “Some Might Say” e “Rock n Roll Star” vieram antes do bis, com “The Masterplan”, “Don’t Look Back in Anger”, “Wonderwall” e “Champagne Supernova”, uma sequência de músicas que todo mundo sabe cantar e que poucas bandas têm algo similar a oferecer.
Antes, tantas outras emocionaram fãs nostálgicos, ainda que rostos de jovens apareçam com frequência nos vídeos postados após a apresentação, cheia de banhos de cerveja e coros, como em “Morning Glory”.
A música intrusa no repertório foi “Little by Little”, do álbum “Heathen Chemistry”, cantada por Noel na parte do show em que Liam deixa o palco. De tudo o que foi feito após os anos 2000, foi uma boa escolha.
Até o show no Brasil, em novembro, espera-se que o repertório mude pouco, com a espinha dorsal toda formada por “(What’s the Story) Morning Glory?”, ainda mais por que o álbum completa 30 anos em 2025. Noel tem então quatro meses para colocar outra música do começo da banda no lugar de “Little by Little”.
Setlist do show de retorno, em Cardiff, no País de Gales – 4.jul.25
Introdução: “Fuckin’ in the Bushes”
- “Hello”
- “Acquiesce”
- “Morning Glory”
- “Some Might Say”
- “Bring It On Down”
- “Cigarettes & Alcohol”
- “Fade Away”
- “Supersonic”
- “Roll With It”
- “Talk Tonight”
- “Half the World Away”
- “Little by Little”
- “D’You Know What I Mean?”
- “Stand by Me”
- “Cast No Shadow”
- “Slide Away”
- “Whatever”
- “Live Forever”
- “Rock ‘n’ Roll Star”
Bis
- “The Masterplan”
- “Don’t Look Back in Anger”
- “Wonderwall”
- “Champagne Supernova”
Fonte ==> Uol



