Quando Marjorie Isaacson começou a tomar medicação para depressão no fim dos seus 20 anos, ela considerou isso como algo que salvou sua vida.
Na época, ela lidava com um casamento instável e tinha dificuldades para se alimentar. O medicamento a ajudou a recuperar o equilíbrio. “Eu estava realmente grata só por conseguir funcionar”, diz.
Mas recentemente, aos 69 anos, Isaacson tem considerado se quer continuar tomando antidepressivos pelo resto da vida. Ela se pergunta sobre os efeitos a longo prazo da medicação, um inibidor da recaptação de serotonina-norepinefrina que é conhecido por aumentar a pressão arterial.
“Com o passar dos anos, as coisas mudaram de ‘Tome e veja como será, não há necessidade de se preocupar agora’ para ‘Bem, as coisas podem ser meio complicadas'”, diz. “Isso é preocupante.”
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Os antidepressivos estão entre os medicamentos mais prescritos e facilmente acessíveis nos Estados Unidos, e muitas pessoas os tomam por anos.
Mas mesmo que existam há décadas —a FDA aprovou o Prozac para tratamento de depressão em 1987— há pouca informação sobre o uso a longo prazo. Os medicamentos foram aprovados com base em ensaios que duraram, no máximo, alguns meses, e ensaios controlados randomizados normalmente abrangeram apenas dois anos ou menos.
As diretrizes clínicas atuais não especificam o tempo ideal que eles devem ser tomados. A falta de dados pode dificultar para as pessoas saberem quando —ou se— devem parar.
Quais fatores você deve considerar?
Os psiquiatras dizem que é uma decisão melhor tomada junto com seu médico. A resposta depende dos sintomas, diagnóstico, resposta à medicação, efeitos colaterais e outros fatores.
Mas muitas vezes essas conversas não acontecem, diz Awais Aftab, psiquiatra em Cleveland. E antidepressivos continuam sendo prescritos para pessoas com baixo risco de recaída na depressão.
Sabe-se que eles têm efeitos adversos que muitas vezes desaparecem à medida que o corpo se ajusta. Mas alguns efeitos colaterais, como ganho de peso e disfunção sexual, podem persistir.
O que os clínicos recomendam?
Para depressão maior, as diretrizes clínicas sugerem tomar medicação até que os pacientes se sintam “de volta a si mesmos”, diz Jonathan E. Alpert, chefe do departamento de psiquiatria da Montefiore Einstein, em Nova York.
Há vários fatores a considerar no uso a longo prazo. Há quanto tempo o paciente está doente? Ele teve múltiplos episódios depressivos? Pessoas que tiveram depressão por dois ou mais anos ou pelo menos dois episódios depressivos são muito mais propensas a ter episódios adicionais, mostram as pesquisas.
Alpert considera a gravidade da doença. O paciente foi internado no hospital? Teve problemas para funcionar em sua vida diária ou precisou tentar vários medicamentos antes de encontrar um que funcionasse? Uma doença que é grave e difícil de tratar sugeriria a necessidade de uso a longo prazo, diz.
Por fim, ele analisa a eficácia: o medicamento está funcionando? Algumas pessoas melhoram, mas ainda têm sintomas residuais. Continuar o medicamento muitas vezes faz sentido, diz, para prevenir “o risco de uma recaída”.
Os antidepressivos também são usados para tratar outras condições, como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático e dor crônica. Para esses problemas, o tratamento a longo prazo é frequentemente necessário, dizem os especialistas.
É mais difícil parar os antidepressivos após uso prolongado?
Mais dados são necessários, mas alguns estudos sugerem que o uso a longo prazo pode produzir fortes sintomas de abstinência.
Em geral, estima-se que uma a cada seis pessoas que descontinuam o antidepressivo experimenta sintomas adversos. Estes podem incluir tonturas, fadiga e choques cerebrais. Para um em cada 35 pacientes, os sintomas parecem graves. Em alguns casos, são tão problemáticos que tentar parar se torna muito difícil.
Reduzir gradualmente a dose pode ajudar, dizem os médicos.
Existe algum perigo em tomar os medicamentos a longo prazo?
É difícil dizer. Estudos observacionais sugerem que os antidepressivos são geralmente seguros.
Dado que um grande número de pessoas toma antidepressivos (cerca de 11% dos adultos dos EUA), se houvesse problemas relacionados ao seu uso “seria bastante difícil não perceber”, diz Paul Nestadt, diretor médico do Centro de Prevenção ao Suicídio da Escola de Saúde Pública Bloomberg de Johns Hopkins.
Os medicamentos não são isentos de riscos, que variam dependendo da medicação. Certos antidepressivos foram associados a aumentos na pressão arterial, frequência cardíaca e colesterol. Eles também podem diminuir os níveis de sódio e aumentar o risco de coágulos sanguíneos.
Um estudo dinamarquês publicado em maio descobriu que pessoas que tomaram antidepressivos por um a cinco anos tinham um risco maior de morrer repentinamente de uma condição cardíaca do que aquelas que não tinham histórico de tomar medicamentos. No entanto, não está claro se as mortes foram causadas pela medicação ou pela própria doença psiquiátrica.
Fonte ==> Uol



