O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), pontos de atenção para o atendimento de pessoas com transtornos mentais, o que inclui transtornos alimentares. 35 anos após seu surgimento, o atendimento da rede pública às pessoas com distúrbios alimentares ainda é limitado.A porta de entrada para o atendimento nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) é a UBS (Unidades Básicas de Saúde).
Uma pessoa com transtorno alimentar que não quer se identificar, no entanto, relata ao blog a morosidade entre atendimentos na unidade básica, com mais de 45 dias entre consultas. Apesar de os sintomas de seu transtorno persistirem, ela diz ter recebido alta do psiquiatra do Caps e sido encaminhada de volta à UBS. “O médico disse que tratam os casos mais severos e eu estava estável. Que eles não têm suporte. Na UBS não tem psiquiatra; eu renovo a receita dos medicamentos com clínico geral a cada dois meses”, diz.
Sem especialistas para o acompanhamento, como nutricionista, psicólogo ou psiquiatra, a paciente relata sentir-se desamparada diante do quadro. “No Caps não consideram o transtorno alimentar como algo sério e complexo. ‘Ah, só não quer comer’ ou ‘ela só vomita’”, diz.
O doutor Táki Cordás, coordenador do programa de transtornos alimentares do Hospital da Universidade de São Paulo (USP), o Ambulim, centro de referência no Brasil, concorda. “Se fosse esquizofrenia ou depressão, receberiam tratamento. Transtorno alimentar é o transtorno psiquiátrico que mais mata”, diz.
Em setembro de 2024 ele já havia relatado que o Ambulim, centro de referência para tratamento, contava com apenas 10 leitos especializados. O que significa que em outros locais do país o número é ainda menor. Na ocasião, Táki e outros representantes de grupos de apoio a transtornos alimentares participaram de audiência pública com a senadora Damares Alves (Republicanos) e apontaram a necessidade de investimentos e especialização para essa área da saúde. De acordo com a assessoria da senadora, não houve mudanças nesse cenário desde então.
O ministério da Saúde informou via nota que em 2024, foram registrados 560 atendimentos ambulatoriais relacionados à anorexia nervosa e bulimia nervosa na rede do SUS; em 2025, até setembro, são 299 atendimentos, além de 20 internações hospitalares por anorexia até julho. A estimativa é que mais de 10 milhões de brasileiros sofrem com transtornos alimentares.
A psiquiatra Mireille Coelho, explica que nos Caps não há serviços especializados para transtornos alimentares. Os centros de referência para tratamento são as universidades, como Ambulim da USP, o Proata da Unifesp, e o Ambata da Santa Casa de São Paulo. A Astral (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares) mapeia iniciativas para tratamento de TA e disponibiliza, no site, uma lista com opções públicas e privadas em todo o Brasil.
“O psiquiatra em geral não põe a mão em transtorno alimentar”, diz Táki. “Não tratam, desqualificam ou dizem para ‘voltar para o Ambulim’, o que sobrecarrega os serviços especializados, que já são poucos”.
A Associação Brasileira de Psiquiatria, estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo possuem algum distúrbio alimentar. No Brasil, de acordo com relato de Táki à Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, são cerca de 15 milhões de pessoas. Ele afirmou que 1% da população brasileira tem anorexia nervosa.
Segundo dados da Opas, 1 bilhão de pessoas no mundo lidam com problemas de saúde mental —e a maioria não recebe tratamento adequado, o que reflete lacunas na qualidade dos sistemas de saúde.
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Fonte ==> Uol