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Ter pesadelos com a escola não é fenômeno particular – 16/09/2025 – Joanna Moura

Ter pesadelos com a escola não é fenômeno particular - 16/09/2025 - Joanna Moura

Estou sentada numa daquelas carteiras de sala de aula antigas (confesso não saber como são as cadeiras de hoje em dia), aquelas com uma mesa de madeira num dos lados, geralmente o direito, e a abertura lateral pela qual o aluno passa para conseguir se sentar. Em cima da mesa, um papel com questões de matemática. Ao meu lado, consigo ver meus colegas de classe e suas canetas ávidas rabiscando números e resolvendo as equações. Sinto o pânico explodir do estômago e fazer o coração bater acelerado ao lembrar que perdi todas as aulas de matemática do último semestre.

Então acordo. Abro os olhos atordoada, com o corpo inundado de adrenalina. Mais de 20 anos depois da minha saída do ensino médio, o pesadelo da prova de matemática ainda me acomete de forma recorrente.

Eu sempre achei que os tais sonhos eram um fenômeno particular, fruto da minha inaptidão com números. Até que nesta semana me deparei com uma matéria da revista americana Time intitulada “Por que você ainda tem pesadelos sobre a escola?”.

A reportagem entrevistou psicólogos e psiquiatras para tentar explicar as razões por trás desse fenômeno que de particular não tem nada.

Segundo os profissionais ouvidos pela revista, é na escola que muitas pessoas entram em contato pela primeira vez com o sentimento de estresse decorrente de não se sentir preparado para alguma coisa. E aí, quando vivenciamos um estresse parecido no nosso dia a dia profissional, esses sentimentos podem vir à tona e nos remeter àquele tempo na infância e adolescência quando nos sentimos, pela primeira vez, despreparados.

Dylan Selterman, professor associado de psicologia na Universidade Johns Hopkins, pesquisa sonhos e vai ainda mais fundo. De acordo com ele, a razão por trás desse tipo de sonho ser tão comum pode estar associada ao sistema educacional em si e à maneira como ele pode ser emocionalmente negativo para uma grande parcela das pessoas. “A vida escolar frequentemente envolve situações de pressão e alto nível de estresse em que estudantes se veem competindo uns com os outros e com muita coisa a perder.” Segundo ele, o resultado disso é que a escola pode se tornar um período de sofrimento na vida dos alunos.

A teoria parece encontrar eco na percepção dos próprios estudantes. Uma pesquisa feita com adolescentes do high school americano (o equivalente ao ensino médio no Brasil) mostrou que a grande maioria tem sentimentos negativos com relação à escola. Se tivesse sido feita no Brasil, não imagino que as respostas teriam sido tão diferentes assim.

A escola foi para mim um lugar de alegria, onde construí amizades que perduram até hoje, mas foi também um lugar de estresse e ansiedade. As aulas muito teóricas e o conteúdo muitas vezes distante da vida real tornavam o que poderia ser interessante e agradável em maçante e entediante. Em casa, a pressão pela nota alta era grande e adicionava mais uma camada de estresse.

Meu lado cínico não me deixa esquecer que adolescentes têm uma tendência à insatisfação, o que deve ter contribuído para os resultados da pesquisa. Mas, como mãe de duas crianças iniciando a vida escolar, a discussão acende um alerta. Num mundo que passa por transformações brutais que exigirão cada vez mais pensamento crítico e em que jovens são bombardeados por distrações, escolas, professores, pais e sociedade precisam trabalhar cada vez mais para que aprender seja interessante, útil e prazeroso para esses jovens, e não o motivo de seus pesadelos.


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Fonte ==> Uol

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